O comunista
Quando eu era adolescente, fui parar na casa de uma amiga de uma amiga, no Pacaembu, aqui em São Paulo. A minha juventude, aliás, pode ser resumida como uma passagem contínua por casas de amigos de amigos que foram amigos somente por determinado período. Mas a ida a essa casa no Pacaembu me marcou especialmente,...
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Quando eu era adolescente, fui parar na casa de uma amiga de uma amiga, no Pacaembu, aqui em São Paulo. A minha juventude, aliás, pode ser resumida como uma passagem contínua por casas de amigos de amigos que foram amigos somente por determinado período. Mas a ida a essa casa no Pacaembu me marcou especialmente, porque foi quando me deparei com um mundo até então insólito para mim, no qual se torcia pelos soviéticos, não pelos americanos. Na minha estreiteza de menino de classe média, embora neto de um anarquista italiano, era inimaginável que alguém torcesse contra os Estados Unidos. Eu nunca tinha pisado em território americano, mas eu o habitava em seriados de TV, em desenhos e gibis de super-heróis, em filmes de ação e comédias — e, no único aspecto um pouquinho original, na subliteratura vendida em bancas de jornais. No início dos anos 70, havia uma coleção de livros policiais de segunda ou terceira categoria, em edições bem vagabundas, com capas amarelas, que eu corria para comprar na banca da esquina, sempre que me davam algum dinheiro. Os autores tinham nomes ingleses, mas provavelmente eram pseudônimos de brasileiros que se dedicavam ao ramo, passando-se por americanos, em troca de um salário de subsistência. Não importa, a América também tinha esse aspecto fascinante.
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Comentários (10)
Maria
2022-03-03 23:26:52Mais uma vez ,genial! Show!
Jefferson
2022-02-24 15:58:06Sempre excelente, Mário.
Marcia Alves De Morais Moura Leite
2022-02-24 10:02:55Como sempre, imperdível, adorei saber mais uma história de sua vida. Adorei
Ana Galdino dos Santos
2022-02-22 23:22:26No Brasil, há muitos comunistas do tipo venha nós, mas vosso reino, nada.
Nyco
2022-02-22 20:09:57O Mario foi 99% perfeito, mas na hora de tirar o DEZ, o famoso DEZ eternizado pelo prof. Raimundo, não resistiu e esbarrocou. A homenagem ao soldado desconhecido é um ritual universal de respeito aos soldados que tombaram em combate e que sequer tiveram direito a uma identificação e muito menos a um enterro digno. Não podemos esquecer que os soldados soviéticos eram nossos aliados e foram fundamentais na vitória contra o nazismo, colocando um ponto final na maior guerra do planeta.
Ferreira
2022-02-22 08:55:25Brilhante, sempre, Sabino! Sua amiga pode até ter ganho uma “Cota de comunistas no Conselho” (sei, ou penso, que é só uma figura de retórica irônica para compor o texto), mas me agradou mesmo saber que seu Avô era anarquista. De bom grado eu viveria em um mundo totalmente “anarquista individualista libertário” e, portanto, ninguém mandaria em ninguém, e cada um que provesse seu abrigo e seu sustento. Um homem ter poder sobre outro é a pior é mais maléfica invenção da criatura.
Nancy
2022-02-21 10:25:53Excelente Mário.
Gustavo
2022-02-21 09:57:39Obrigado, Mario. Você é realmente uma ilha de luz cercada de escuridão por todos os lados. Seus textos (esse em particular me trouxe flashbacks maravilhosos, de Maiakovsky, Andre Gide...) já são doses obrigatórias de sanidade temporária nesse absurdo que virou a nossa realidade. Obrigado.
EDEN DO CARMO SOARES JUNIOR
2022-02-21 07:25:09Magnífico.
Crusoe
2022-02-21 00:01:36Acho que algum brasileiro gentil cheirou as flores.